Conheça nossas redes sociais

Notícias

Profissionais do Ernesto Simões são vítimas de violência neste fim de semana

26 de janeiro de 2016

Funcionando dentro de um container há quase três anos, a emergência do Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF) foi mais uma vez cenário de insegurança neste fim de semana. Em busca de atendimento, acompanhantes de pacientes adentraram à unidade na noite de domingo (24) agredindo funcionários e destruindo o patrimônio público. Coagidos, e sem segurança policial, os médicos que estavam de plantão relataram, através de redes sociais, ao Conselho Superior das Entidades Médicas do Estado da Bahia (Cosemba), constituído pelo Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Associação Bahiana de Medicina (ABM) e Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), cenas de um verdadeiro caos.

De acordo com a cirurgiã geral Marília Maniçoba, a confusão começou após familiares de um paciente baleado, que já chegou à unidade morto, tentar invadir o setor de urgência. “Um absurdo sem proporções o que aconteceu. Cena de horror! Um monte de acompanhante invadindo e um único segurança com os maqueiros tentando defender. Todo mundo trocando murro e vindo em direção a sala de atendimento. Ficamos simplesmente encurralados”, conta ela. Acionada, a polícia só chegou ao local 20 minutos após a confusão, relataram outros funcionários que também estavam de plantão no local.

A falta de segurança na emergência do HGESF não é novidade, segundo relatos dos próprios profissionais que lá trabalham. “O Ernesto atende muitas vítimas de traumas violentos, como pacientes baleados ou esfaqueados, e está instalado em uma região relativamente perigosa. São pacientes que oferecem risco à equipe”, pontua Dra. Marília. Com medo, ela conta que teve de “fugir” da emergência utilizando uma porta lateral do container: “Saímos correndo, junto com enfermeiros, técnicos, etc, como se fossemos nós os fugitivos”, desabafa.

A cirurgiã chama atenção ainda para o fato do HGESF não possuir um posto policial. “Atendemos muitos casos violentos e não tem policiamento algum. Todos os grandes hospitais têm postos policiais. O Ernesto não”, ressalta ela. O fato é que casos como esse não são pontuais. Médicos que atuam na unidade informam que a Polícia Militar revelou que nesses últimos dias já aconteceram duas “troca de tiros” em frente a maternidade, mas que apenas dois policiais são responsáveis por garantir a segurança de todo o complexo.

O diretor médico do HGESF, Higino Cartaxo, lamenta a situação e confirma a recorrência de fatos violentos na unidade. Segundo ele, profissionais já pediram desligamento, temendo os riscos no hospital. Ainda de acordo Dr. Higino, na tentativa de garantir a segurança na unidade, foi construída uma sala privativa para abrigar o policiamento, mas, na ocasião, os próprios policiais se recusaram a permanecer no local, alegando que o container é inseguro. “Se até a polícia se sente insegura, imagine nós, médicos”, destaca Dra. Marília.

Na tentativa de reverter esse cenário, o Cosemba tem buscado a atenção dos órgãos competentes, a fim de que seja possível o debate conjunto. E, para tanto, tem contado com a participação de representantes do Ministério Público da Bahia e de diversos órgãos governamentais entre os quais, a Secretaria de Saúde do Estado, PM e Guarda Municipal, com os quais são mantidas periódicas reuniões, além de visitas às unidades de saúde. “Apesar de reconhecer que esses órgãos vem demonstrando interesse e colaborando com as entidades médicas na busca por medidas resolutivas, sabemos que tais ações ainda se mostram tímidas. Carecemos da implementação de políticas públicas mais efetivas que demandam seriedade, compromisso e decisões governamentais pautadas no interesse público e na proteção da sociedade”, afirma o conselheiro do presidente do Conselho, José Abelardo de Meneses.

Neste sentido, desde o ano de 2011, o Cremeb tem denunciado os casos de violência e agressão registrados por médicos e pacientes, no intuito de demonstrar às autoridades e gestores a necessidade de equacionar os problemas ocasionados pela falta de segurança nas unidades de saúde da Bahia, que somados às deficiências relacionadas à estrutura humana e material, comprometem sobremaneira a qualidade da assistência prestada à população. “É inaceitável que qualquer profissional exerça suas funções com medo, coagido. Não podemos deixar que essa situação de vulnerabilidade se perpetue”, reivindica Dr. Abelardo.

Compartilhe: