Professora emérita da UFBA, Dra. Achilea Bittencourt recebe prêmio internacional pelos trabalhos sobre HTLV-1

Há mais de 30 anos, a médica patologista e professora emérita da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dra. Achilea Lisboa Bittencourt, dedica-se voluntariamente às pesquisas sobre infecções pelo HTLV-1 (vírus linfotrópico de células T humanas do tipo 1), e a sua obra já influenciou a criação de políticas públicas de saúde na assistência a população de baixa renda portadora do vírus. Ontem (9), mais um capítulo foi escrito nessa inspiradora trajetória de atenção aos mais necessitados: a médica recebeu o prêmio IRVA Clinical Award 2022. A honraria compõe a programação da 20ª Conferência Internacional de Retrovirologia, realizada em Melbourne, na Austrália, com organização da Associação Internacional de Retrovirologia.

“Eu fiquei, primeiramente, muito surpresa quando chegou a notícia. A minha indicação para o prêmio partiu do colega Dr. Johan Van Weyenbergh, também pesquisador, mas eu não espera tanto reconhecimento. Depois a sensação foi de felicidade, já que parte de uma entidade internacionalmente reconhecida”, contou Dra. Achilea. Apaixonada pela pesquisa, ela deixa um recado para a nova geração de médicos: “estudem, aproveitem que as possibilidades de se informar são mais abrangentes hoje em dia e busquem conhecimento, seja numa especialização, em um estágio ou questionando os seus professores mestres, mas nunca deixem de buscar novas ajudas”.

Na sua carta de agradecimento pelo prêmio, compartilhada com exclusividade ao Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), a pesquisadora conta que decidiu se dedicar ao tema após identificar a carga de prevalência dessa infecção na população pobre da Bahia e Maranhão. Com o acompanhamento de gestantes afetadas pelo HTLV-1, por exemplo, a sua vivência identifica que a maioria das pacientes sequer conheciam a existência do vírus. Os seus estudos já influenciaram uma política pública estadual de triagem pré-natal e fornecimento gratuito de fórmula láctea para bebês nascidos de mães infectadas, e a criação de um programa de triagem específica para identificação do vírus na gravidez, sendo a Bahia o único estado do Brasil com esse programa.

Nascida em uma família de médicos do Estado do Maranhão, Dra. Achilea Bittencourt cresceu vendo seu pai dedicar a vida profissional à luta contra doenças tropicais. “Não era comum mulheres jovens viajarem para o exterior para estudar medicina em meados do século 19, mas consegui me formar em Medicina em 1957, na Universidade Federal da Bahia”, registra a médica e professora, que lecionou sobre patologia tropical na mesma universidade onde graduou-se. “Estou agora com 89 anos e ainda desejo ver o dia em que vacinas ou medicamentos eficazes estarão disponíveis para melhorar a qualidade de vida de nossos pacientes”, finaliza a carta, Dra. Achilea Bittencourt.

Antes de se debruçar nas pesquisas sobre HTVL-1, dedicou-se aos estudos sobre infecções congênitas, tema da publicação de um livro da sua autoria na década de 90. Na sua família, são poucos os que não optaram pela Medicina, tendo como referência na profissão o seu pai, um tio, o marido, o irmão, dois filhos, dois sobrinhos e uma neta: todos eles médicos.