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Presidente do Cremeb representa CRMs e lê “Carta ao Médico Brasileiro” nos 80 anos do CFM

13 de setembro de 2025

Se a Bahia é a terra mater da Medicina no Brasil, foi de lá também que veio a voz escolhida para representar os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) na celebração dos 80 anos do Conselho Federal de Medicina (CFM). O presidente do Cremeb, conselheiro Otávio Marambaia, assumiu essa missão durante a sessão solene realizada na última quinta-feira (11), na sede do CFM, em Brasília, e foi além de um agradecimento: fez um apelo à classe médica.

 

 

“Agradeço a honra de falar em nome dos presidentes dos CRMs. Mas não é apenas uma pessoa que representa essa instituição, e sim um trabalho conjunto. Em cada Conselho, são 42 conselheiros e funcionários trabalhando para que nós produzamos o trabalho que fazemos hoje em cada ponto desse país”, disse Dr. Marambaia, que, assim como os demais presidentes, foi homenageado pelo CFM com a Medalha de Celebração da Unidade do Sistema.

Ao som da música Blowin’ in the Wind, de Bob Dylan, o presidente do Cremeb agradeceu ainda aos seus pais, que migraram do interior da Bahia para a capital a fim de permitir que os filhos estudassem, e à sua “companheira de vida”, Dra. Miriam Pinillos Marambaia. Algumas referências do sistema Conselhal, como o conselheiro decano do Cremeb, Dr. Jorge Cerqueira, também presente na solenidade, foram lembradas por Dr. Marambaia.

A fala ganhou ainda mais força quando ele pediu licença para ler uma “Carta ao Médico Brasileiro”, destacando que a Medicina vive um tempo de ameaças às prerrogativas médicas e que apenas a união da categoria poderá preservar o legado histórico da profissão. “A sua profissão, a minha, a nossa, a Medicina, está sob ataque e, tão certo como o alvorecer acontece todos os dias, também é certo que ninguém, a não ser nós mesmos, virá nos socorrer”, afirmou.

Na mensagem, o presidente do Cremeb ressaltou que o Brasil é a terra do “pelo menos” e não da excelência, responsabilizando os governos por impor à maioria da população uma medicina “de segunda qualidade”, menosprezando os médicos: “Os fracassos e mazelas dessa incompetência gerencial e técnica lançam a culpa sobre nós, provocando frustração da população e a violência contra os médicos, que são a face visível do Estado na saúde”.

Por fim, Dr. Marambaia convocou cada médico brasileiro a hastear a bandeira da ética, a apoiar o Exame Nacional de Proficiência e a contribuir com o sistema Conselhal, denunciando irregularidades. “Não temos como ser fortes, resilientes e vencedores sem a sua ajuda, prezado colega brasileiro”, registrou ele, que estava acompanhado dos conselheiros federais pela Bahia, Maíra Dantas e Antônio Meira Júnior, ambos também homenageados pelo CFM. Os conselheiros Plínio Sodré (vice-presidente), José Abelardo de Meneses e Tatiana Aguiar também marcaram presença na solenidade.

 

Leia abaixo a carta na íntegra.

 

CARTA AO MÉDICO BRASILEIRO

 

Prezado colega,

Na oportunidade dos 80 anos do Conselho Federal de Medicina do Brasil dirijo-me a você que labuta no dia a dia, com a vocação acendrada, a resiliência e a força para vencer o mal que aflige o corpo e a alma das pessoas. Escrevo a você que é, antes de tudo, um forte, mas tão concentrado no seu trabalho, muitas vezes em condições adversas, sem tempo para ver o seu entorno e perceber as obviedades que até o vento lhe traz. A sua profissão, a minha, a nossa, a Medicina, está sob ataque e, tão certo como o alvorecer acontece todos os dias, também é certo que ninguém, a não ser nós mesmos, virá nos socorrer. Prova disso é que, depois de 3.000 anos da Medicina Ocidental, aqui no Brasil, tivemos que traduzir numa Lei o que é ser médico, algo que entendíamos como absolutamente claro desde o primeiro momento em que nós decidimos a sê-lo.

Após duríssima e árdua luta empreendida pelo sistema Conselhal e demais entidades médicas, conseguimos, na Lei do Ato Médico, essa definição! Infelizmente, porém, isso não foi suficiente.

Quantas pessoas terão que morrer, ou ser sequeladas irreversivelmente, antes que se restaurem plenamente as prerrogativas da profissão médica, vilipendiada cotidianamente por quem não tem a mínima ideia do que significa ser médico? Precisamos que o colega fique alerta! O que vivemos nestes dias não é o alvorecer do futuro. O alaranjado do céu que você vê não é o dos primeiros raios do sol, mas o lampejo do incêndio provocado pelos que querem destruir o patrimônio e o legado dos milhares que nos antecederam. Querem fazer da Medicina terra arrasada nos impedindo de transmitir esse legado para as novas gerações.

Talvez você pergunte: estão de fato fazendo isso? A resposta, caro colega, está nos ventos que sopram sem controle entre as centenas de pseudo-escolas médicas, criadas e movidas pela sanha do lucro fácil, formando insuficientes resignados, propensos a atender rápido ao canto das sereias digitais, adulterando o ideal de cumprir a missão de ter como alvo de “toda a sua atenção o paciente” e não buscando ser ele próprio, médico, o alvo dela.

O vento, agora de açoite, cria redemoinhos pela intromissão no Ato Médico por quem não é médico, não se preparou para sê-lo e nem tem atributos legais para tal. Estes intrusos obrigam os CRMs, diuturnamente, a cansativa tarefa de combatê-los para preservar a saúde pública e de cada pessoa…

Fica por aí? Não! Não bastasse isso, vivemos na terra do “pelo menos” e não da excelência, onde governos de diferentes matizes e nas três esferas, insistem em impor a imensa maioria da população uma medicina indigente, de segunda qualidade, menosprezando os médicos e criando atalhos viciosos a pretexto de “pelo menos” oferecer o que chamam de “saúde para todos”. Os fracassos e mazelas dessa incompetência gerencial e técnica lançam como culpa sobre nós, provocando frustração da população e a violência contra os médicos, que são a face visível do Estado na saúde.

Essa mixórdia de agressões à medicina e aos médicos, ao bom senso, à competência técnica e a honestidade de propósitos se refletem nos índices vergonhosos exibidos pela nossa saúde pública no concerto das nações do mesmo porte. E nos humilham, se pensarmos em comparar com nações do chamado primeiro mundo…

Volta e meia usam como propaganda as ilhas de eficiência e excelência que temos – existentes mercê do trabalho árduo e abnegado dos médicos – que não mascaram o quadro vexatório que exibimos.

Mais teria para dizer a você, caro colega, mais teria que dizer do que o vento está soprando, mas tenho confiança que seus ouvidos estão aptos a ouvir o que ele diz e que seus olhos estão abertos para ver. Ver que eu, você – nós todos, temos que entender o que está ocorrendo em nossa volta e nos concentrarmos no esforço resoluto para defender a pureza e o protagonismo da profissão que abraçamos e que corre risco real e imediato nesse momento, diante de tantas forças operando contra nós. Nesta hora, o sistema Conselhal é o repositório da nossa esperança para resistir e combater os inimigos da medicina, sendo fundamental que o colega busque apoio e apoie.

A estruturação do sistema Conselhal, que devemos a um presidente médico como nós, não depende de governos e ideologias, se autossustenta e tem mecanismos fortes e ativos de fiscalização e governança. Baseia-se principalmente em você, caro colega, seja com sua contribuição anual que nos dá independência, seja na sua participação na escolha dos seus representantes, seja, também, na fiscalização e na sua estreita colaboração com todos os CRMs. É a nossa reserva e fortaleza. Porém, não temos como ser fortes, resilientes e vencedores sem a sua ajuda, prezado colega brasileiro!

Por isso, onde você estiver, hasteie a bandeira da ética como medida de todas as coisas, do Exame Nacional de Proficiência, da defesa das prerrogativas do médico, da exigência de condições adequadas de trabalho, da remuneração e da melhor atenção para o paciente, alvo de todo o seu cuidado. Resista! E onde estiverem laborando contra isso denuncie ao seu Conselho Regional.

Finalmente, por um momento, pare de fazer a pergunta do que o sistema Conselhal pode fazer por você. A pergunta correta a fazer nessa hora é: o que posso fazer para ajudar o sistema Conselhal na defesa da saúde do Brasil e da medicina brasileira?

Responda e una-se a nós, colega. Juntos venceremos!

 

Otávio Marambaia Dos Santos
CREMEB 4.686