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Pandemia derruba quase 30 milhões de procedimentos médicos em ambulatórios do SUS

13 de setembro de 2021

As restrições de acesso aos hospitais, o contingenciamento de leitos para o tratamento da covid-19 e o medo de pacientes em procurar ajuda médica em função da pandemia provocaram queda de 27 milhões de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos – não programados ou que não são considerados de urgência e emergência. É o que mostra um novo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem analisado os efeitos da crise sanitária instalada no Brasil desde março do ano passado.

Ao comparar o volume de atendimentos médicos registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS) e realizados entre março (primeiro mês da pandemia no Brasil) e dezembro de 2020 com o mesmo período do ano anterior, o CFM constatou a redução de pelo menos 16 milhões de exames com finalidade diagnóstica, 8 milhões de procedimentos clínicos, 1,2 milhão de pequenas cirurgias e 210 mil transplantes de órgãos, tecidos e células.

“Uma das medidas de enfrentamento à covid-19, de reconhecimento nacional e internacional, foi a suspensão de procedimentos eletivos com o intuito de preservar equipamentos de proteção individual, preservar leitos e evitar o colapso do SUS e consequente desassistência a pacientes infectados pelo novo coronavírus”, lembra Mauro Ribeiro, presidente do CFM. O desafio agora, avalia, é “preparar o Brasil para a retomada segura desses atendimentos”.

O impacto negativo nos atendimentos médicos nos ambulatórios da rede pública foi mais drástico durante os dois primeiros meses após a decretação de calamidade pública. Em abril e maio do ano passado, a pandemia baixou pela metade os atendimentos eletivos oferecidos pelas mais diversas especialidades médicas.

 

Mais afetados – Os procedimentos realizados por oftalmologistas, sobretudo consultas e exames de mapeamento de retina e aferição da pressão intraocular (tonometria), caíram de 18,5 milhões em 2019 (março a dezembro) para 12,2 milhões. Um déficit de pelo menos 6,3 milhões (-34%) entre os períodos analisados.

No ranking das áreas médicas mais acometidas (o SIA-SUS não utiliza a nomenclatura médica, mas a Classificação Brasileira de Ocupações), além da oftalmologia estão a radiologia, com redução de 5,4 milhões de procedimentos; a clínica médica (-2,8 milhões); e a radioterapia (-2,6 milhões).

Também figuram entre as dez áreas mais afetadas a anatomopatologa (-2 milhões); cardiologia (-992,6 mil); medicina laboratorial (-973,5 mil); citopatologia (698,7 mil), neurologia (-535,8 mil); e ginecologia e obstetrícia (-534,3 mil).

 

De modo geral, a consulta médica em Atenção Especializada foi o procedimento ambulatorial mais afetado pela pandemia: baixou de 8,3 milhões para 5,6 milhões – redução de 2,6 milhões de acolhimentos (-32%). Em segundo lugar na lista dos dez procedimentos com maior queda absoluta está a tonometria: quase 2 milhões de exames a menos.

 

 

Em termos percentuais, o impacto mais significativo foi observado nos exames de gasometria, muito utilizado para medir o pH e as quantidades de oxigênio e dióxido de carbono no sangue. Estes sofreram queda de 95% (-33,5 mil). Os atendimentos médicos em grupos de pacientes em Centros de Atenção Psicossocial também aparecem entre os procedimentos com maior queda percentual nos ambulatórios: 84%, com impacto negativo em aproximadamente 78 mil atendimentos.

Exames preventivos contra o câncer, por exemplo, também estão entre os que sofreram significativa queda no período. A mamografia bilateral para rastreamento, exame realizado nas duas mamas e muitas vezes vital para a descoberta precoce de um câncer de mama, passou de 3,2 milhões, entre março e dezembro de 2019, para 1,7 milhão no mesmo período de 2020.

O exame citopatológico cérvico-vaginal, o Papanicolaou, muito importante para o rastreamento de câncer de colo uterino, caiu pela metade na pandemia, passando de 2,3 milhões para 1,1 milhão.

Norte a Sul – De acordo com o levantamento do CFM, a redução nos procedimentos ambulatoriais – aqueles que não exigem a permanência do paciente na unidade de saúde por mais de 24 horas – afetou todas as Regiões do País. Em quantidade absoluta, o impacto foi mais significativo São Paulo e Minas Gerais, com 5,7 milhões (redução de 24%) e 4 milhões (-31%) a menos, respectivamente.

Em termos percentuais, a diminuição mais sensível aconteceu em Alagoas e no Piauí, que aparecem com queda de 47% e 45%, respectivamente. Na contramão da tendência nacional, Distrito Federal e Amapá tiveram aumento no período: 65,6 mil (10%) e 28,7 mil (33%) procedimentos a mais.

 

 

Atendimentos no SUS voltam a subir em 2021, mas entidades médicas alertam para os efeitos do pós pandemia

A preocupação com a queda no número de consultas, exames de rastreamento e outros procedimentos tem sido recorrente entre as entidades médicas. Em abril deste ano, representantes de sociedades de especialidades defenderam junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) a necessidade urgente de se planejar ações para retomada desses atendimentos.

Números oficiais do Ministério da Saúde indicam a realização de 50 milhões de procedimentos médicos ambulatoriais eletivos durante o primeiro semestre de 2021 – 20% a mais em comparação ao mesmo período do ano passado (41,6 milhões). Quando comparados aos primeiros seis meses de 2019, no entanto, ano anterior à pandemia, os resultados ainda figuram em queda de 14%.

 

 

Em atenção ao alerta das sociedades de especialidades, o CFM prepara uma estratégia nacional para estimular a população a buscar atendimento médico para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, observando as normas de segurança.

Durante a pandemia, a indicação ou contraindicação cirúrgica precisou considerar o perfil epidemiológico de cada localidade, além das recomendações técnicas das autoridades sanitárias e do executivo local, além das atualizações propostas pelas sociedades de especialidades.

Dentre as soluções propostas para enfrentar esse desafio estão a realização de campanhas voltadas aos pacientes, especialmente aqueles com doenças crônicas, para que não abandonem seus tratamentos. Por meio das redes sociais e imprensa, diversas organizações já têm defendido que muitas doenças não podem esperar e, quanto antes forem diagnosticadas, melhor será o resultado de seu tratamento.

 

Confira abaixo algumas destas iniciativas:

Cardiologia – Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgias Cardiovasculares (SBCCV), mais de 60 mil brasileiros estão na fila de espera por atendimento cardiológico devido à falta de insumos. A pesquisa, realizada a partir de relatos de 27 hospitais de nove estados brasileiros, constatou que 52% dos serviços de cirurgia cardiovascular já apresentam problemas graves de desabastecimento.

De acordo com a SBCCV, a falta de insumos fez com que, em 2020, menos de 40 mil pacientes fossem operados. Em um ano sem pandemia, aproximadamente 100 mil operações são realizadas no País. A especialidade relata significativa falta de válvulas cardíacas, oxigenadores, materiais especiais e cânulas, usados em cirurgias de ponte de safena, correção de defeitos congênitos, correção de aneurismas e trocas de válvulas cardíacas.

Para os cardiologistas, o represamento dessas cirurgias, além de aumentar o número de mortes por problemas cardiovasculares, deve gerar uma busca ainda maior ao sistema de saúde pós-pandemia. Segundo o ‘cardiômetro’, indicador dos óbitos por doenças do coração criado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), essa é a doença que mais mata no Brasil, chegando a atingir mais de 400 mil pessoas por ano.

Oncologia – Preocupada com o panorama do câncer em tempos de pandemia, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lançou em setembro do ano o resultado de pesquisa entre seus associados para entender os impactos da covid-19 no Brasil. Segundo o levantamento, mais de 74% dos entrevistados informaram que tiveram um ou mais pacientes que interromperam ou adiaram o tratamento por mais de um mês durante a pandemia.

Em campanha, a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) também levantou durante o “Março Azul” que, em 2020, só no SUS o número de exames de sangue oculto nas fezes caiu 23% em relação a ano anterior – 350 mil exames a menos. Apesar de ser um procedimento simples, este exame pode ser decisivo para salvar a vida de paciente com suspeita de câncer colorretal.

Já a colonoscopia, também indicado aos pacientes em que existe uma suspeita diagnóstica, apresentou uma queda percentual ainda mais significativa no ano da pandemia, de acordo com a Sobed. Foram menos 106.030 procedimentos, em comparação com 2019 – uma redução de 31%.

Oftalmologia – Dados levantados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) também refletem o afastamento dos pacientes por cuidados com a saúde ocular. Em maio de 2020, mês de prevenção e combate ao glaucoma, a especialidade mostrou que quase 1,6 milhão de exames para detecção precoce da doença deixaram de ser realizados no SUS. A queda prejudicou a investigação de possíveis casos novos desta doença, considerada principal causa de cegueira evitável no mundo, contribuindo para o atraso no tratamento e o acompanhamento de situações confirmadas.

Os oftalmologistas também indicaram que pelo menos 6,5 mil cirurgias que são indicadas para tratar ou reverter o glaucoma também deixaram de ser realizadas no SUS no ano passado. A queda, segundo números analisados pelo CBO, foi de 22%. Com a flexibilização do isolamento social na maior parte do País e a retomada das operações, os especialistas temem alta expressiva da demanda e pacientes com a doença em estágio agravado.

Urologia – Quem também alertou para os efeitos da pandemia na saúde dos brasileiros foi a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que em julho do ano passado divulgou resultado de pesquisa com associados. Cerca de 90% dos participantes informaram ter tido redução igual ou maior que 50% nas cirurgias eletivas e 55% relataram diminuição de pelo menos metade no número de cirurgias de emergência.

Esse panorama acendeu o sinal de alerta na entidade de que boa parte dos pacientes com doenças urológicas (como cânceres, hiperplasia de próstata, incontinência urinária entre outros) possam ter postergado o tratamento pelo receio de contraírem a covid-19.

Além disso, em março deste ano a SBU também apontou que os tratamentos cirúrgicos para a incontinência urinária caíram 60% em 2020, em relação ao ano anterior. A constatação é de que a pandemia agravou o tratamento de várias doenças, entre elas a incontinência urinária, que costuma afetar 45% das mulheres e 15% dos homens acima de 40 anos.

 

Fonte: CFM | Portal Médico

 

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