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Escolas médicas na Bahia não observam critérios para oferecer formação de qualidade, revela pesquisa do CFM

17 de junho de 2021

Dos 17 municípios baianos que sediam escolas médicas, apenas Salvador oferece todas os parâmetros ideais para o funcionamento satisfatório de uma faculdade de medicina. É o que mostra o estudo Radiografia das Escolas Médicas, divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que avaliou a existência de hospital de ensino, quantidade de leitos e alunos por equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) nos estados, o qual conclui que 94% dos municípios com faculdades de medicina apresentam algum problema para funcionar de acordo com os três parâmetros considerados ideais. Nacionalmente, 80% das faculdades estão em municípios que deixam de atender pelo menos um quesito padrão.

A pior situação está em Guanambi, onde há um leito para 1,35 aluno e 4,4 estudantes por equipe de saúde da família. O ideal é que haja pelo menos cinco leitos públicos de internação para cada aluno no município; que cada equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) seja acompanhada por no máximo três alunos de graduação; e que seja disponibilizado um hospital com mais de cem leitos exclusivos para o curso. Para o CFM, a falta de locais de prática e de estágio é resultado da abertura desenfreada de escolas médicas, especialmente nos últimos dez anos, período em que 19 novas instituições foram inauguradas só na Bahia.

A Bahia reúne hoje 7% (26) das escolas de medicina do país, que oferecem cerca de 2.500 vagas em cursos de medicina em 17 municípios baianos. São 11 escolas públicas e 15 privadas, ao custo mensal que varia entre R$ 4.822,00 e R$ 9.600,00.

Para o coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM e conselheiro federal pela Bahia, Júlio Braga, a falta de campos de estágio faz com que o aluno comece a trabalhar sem ter treinado as habilidades necessárias a um bom médico. “Quando era estudante, há mais de 30 anos, acompanhava de 3 a 4 pacientes por plantão. Hoje, há situações em que um paciente é acompanhado por 15 estudantes. Estressa pacientes e alunos”, conta.

“Durante sua formação, o estudante deve ter contato com o maior número de pacientes possível. Só assim, ele aprende a colher histórias, a fazer uma boa anamnese e diagnósticos certeiros. Com a falta de campos de estágio, ele chega ao mercado sem ter desenvolvido essas habilidades”, complementa o diretor de Comunicação do CFM, Hideraldo Cabeça, também professor e coordenador da Comissão de Residência Médica do Pará.

Leitos de internação – Os parâmetros considerados ideais pelo CFM estavam previstos nas Portarias do Ministério da Educação 2/2013 e 13/2013, que permitiam a abertura de escolas médicas nos municípios que respondessem adequadamente às exigências. Contudo, esses critérios – também defendidos pelas entidades médicas – foram flexibilizados por meio da Portaria 5/2015. O texto em vigor manteve os parâmetros, mas eliminou o detalhamento de números, tornando-os subjetivos.

De acordo com o levantamento, 71% dos municípios baianos que sediam escolas médicas não possuem número de leitos suficientes. Faltam leitos de ensino em Alagoinhas, Barreiras, Eunápolis, Guanambi, Irecê, Jacobina, Juazeiro, Lauro de Freitas, Paulo Afonso, Santo Antônio de Jesus, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista. Atualmente, são 11.686 leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) disponíveis nos 17 municípios do estado e que sediam escolas médicas. Para que o ideal seja atingido, seria necessária a criação de, pelo menos, 800 novos leitos nessas localidades.

Locais de prática – Além dos leitos hospitalares, a presença de equipes de saúde da família é outro importante ambiente de prática para os estudantes de medicina. Em Barreiras, Guanambi, Jacobina e Vitória da Conquista, o número de equipes é insuficiente para servir a grande quantidade de estudantes de medicina que entram anualmente nas faculdades. Em todo o estado, pelo menos 2.500 estudantes entram anualmente nas faculdades para disputar espaço em 1.000 equipes de saúde da família.

O levantamento do CFM também identificou a carência de hospitais de ensino em todo o País. No estado da Bahia, somente Salvador possui hospitais apropriados para a docência. Numa situação ideal, as faculdades de medicina teriam seus hospitais e ambulatórios para que os estudantes do internato, no 5º e 6º anos, praticassem o estágio.

Júlio Braga pontua que onde faltam unidades de saúde, equipes de saúde da família e leitos, também faltam médicos e, principalmente, preceptores para acompanhar os estudantes. “Se o município não tem unidades e equipes de saúde em número suficiente, como vai ter um médico treinado e qualificado para acompanhar o estudante?”, questiona.

Padrão europeu – Em 2020, o Brasil registrou a razão de 10 recém-formados em medicina para cada grupo de 100 mil habitantes. Se ficássemos neste número, estaríamos próximos, aos percentuais do Chile (8,82), Estados Unidos (7,76), Canadá (7,7), Coreia (7,5), Japão (6,9) e Israel (6,9).

O prognóstico, no entanto, é que, daqui a seis anos, quando todas as vagas criadas recentemente (37.423) entregarem seus primeiros formandos, teremos ao menos 17,7 egressos por 100 mil habitantes. Essa média será maior do que a existente hoje em Portugal (16,88), Holanda (15,95), Austrália (15,45), Espanha (14,48), México (13,54), Reino Unido (12,87), Alemanha (12,01) e França (9,46).

Como a distribuição das escolas se dá de forma desigual, em 25 estados – entre eles a Bahia – já existe hoje uma densidade de vagas superior à média nacional. Desses, onze estados já possuem índices iguais ou superiores aos dos sete países melhor classificados no ranking da OCDE. Confira no gráfico abaixo:

 


Saiba mais em
Radiografia das Escolas Médicas

 

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Fonte: CFM | Portal Médico

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