Campanha do Cremeb chama atenção para os dados da mortalidade fetal e infantil na Bahia: mais de 13 mil crianças mortas em 5 anos
30 de abril de 2025
Quem circulou pela capital baiana nos últimos dias provavelmente se deparou com a história de Enzo, Valentina e João – três crianças baianas que poderiam ter tido um futuro promissor, mas que, infelizmente, morreram no parto. Elas, assim como outras 13,6 mil crianças, fazem parte de uma triste estatística: a mortalidade fetal e infantil registrada na Bahia entre 2019 e 2023. Os dados, extraídos do Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde (Sesab) de dezembro de 2024, embasam a campanha publicitária do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), que denuncia a desassistência materno-infantil no estado.
“Mais de 13 mil crianças morreram em cinco anos na Bahia e ninguém se importa? O Cremeb se importa e, há 25 anos, vem denunciando os problemas graves na assistência materno-infantil no estado, mas nada é feito. É preciso que a sociedade cobre dos gestores uma solução”, diz o presidente do Cremeb, Cons. Otávio Marambaia. Ele relata que, em fiscalizações realizadas recentemente em oito maternidades públicas, o Conselho constatou um cenário que vem se perpetuando, como equipes médicas incompletas, o que gera sobrecarga de trabalho, além de infraestruturas precárias, como falta de equipamentos e ausência de serviços básicos, como UTIs.
Dr. Marambaia deixa claro que, assim como a população, a classe médica também é vítima da falta de prioridade dos gestores públicos: “Como somos nós que estamos na linha de frente, sempre somos nós os responsabilizados pelas mortes no parto. No entanto, o que falta, de fato, é investimento na saúde pública. Faltam equipes e maternidades estruturadas, acesso ao pré-natal e ações efetivas de combate à sífilis congênita, este último não é um problema apenas da Bahia. Em resumo, não falta esforço dos médicos. Falta investimento na saúde pública”, enfatiza ele, justificando o mote da campanha publicitária do Cremeb.
Os dados da Corregedoria do Cremeb confirmam a declaração do presidente. Das 1.894 sindicâncias instauradas no Conselho no período de 2019 a 2023, apenas 177 (menos de 10%) foram relacionadas a área de obstetrícia e, deste total, 65% foram arquivados por falta de indícios de infração ética. “Em relação ao número de médicos inscritos, essas sindicâncias representam menos de 0,1%. O que nos faz ter a certeza que a maioria dos colegas faz a sua parte, mas, sem os recursos necessários, só fazendo milagre” enfatizou Dr. Marambaia. Das 52 (35%) demandas que resultaram em instauração de Processos Éticos-Profissionais no período, em 43 delas os médicos foram julgados e absolvidos por ter restado comprovada a inexistência de infração ética. Os 8 restantes encontram-se em fase de instrução.
HISTÓRICO – Ao longo de mais de duas décadas de luta contra a mortalidade fetal e infantil na Bahia, o Cremeb realizou diversas ações para denunciar esse descaso, como estudos técnicos e audiências públicas, além de fiscalizações sistemáticas nas maternidades. “Mas, absolutamente nada mudou. Estamos falando de números equivalentes e, a depender, superiores aos de uma guerra. Só que aqui, as mortes acontecem todos os dias, silenciosamente, nos corredores lotados de hospitais, nos locais onde não há acesso ao pré-natal e nos rincões onde não há médicos e tampouco maternidades”, reforça o Conselho.
A campanha publicitária do Cremeb foi lançada no dia 19 de abril, com outdoors em Salvador e Região Metropolitana (confira abaixo). No último dia 26, foi ampliada para o interior do estado, com a veiculação de um spot de rádio (ouça aqui). Além disso, as peças estão sendo veiculadas nos principais centros comerciais de Salvador. “Os médicos estão fazendo tudo que podem, porém, sozinhos não resolverão esse problema. O nosso objetivo é chamar a sociedade baiana para que ela tenha conhecimento das dificuldades. A Bahia ocupa um lugar vergonhoso no Brasil. Se os dados da Bahia forem retirados da estatística nacional, a mortalidade fetal e infantil melhoraria no país. Nós estamos ceifando vidas antes mesmo que elas se concretizem”, conclui Dr. Marambaia.