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“Um hospital a deriva…” – Artigo do presidente do Cremeb sobre o Hospital Roberto Santos

21 de junho de 2022
Conheci o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) à época de estudante. Na primeira vez que lá entrei, vi acomodado, dentro de caixotes imensos, equipamentos que foram comprados, mas não haviam contratos estabelecidos para as instalações. Os mesmos levaram anos para serem instalados. Algumas máquinas nem foram utilizadas, porque simplesmente estragaram ou ficaram defasadas. Desde esta época a gestão daquela instituição já operava sem cobranças e, com uma ou outra exceção, nunca colocaram aquele hospital no lugar em que deveria.

O Roberto Santos é o maior hospital público da Bahia e foi construído para ser a “joia da coroa” do atendimento público de saúde em procedimentos de alta complexidade. Deveria ser! No entanto, é gerido e conduzido como se fosse um hospital intermediário e que, pelo menos no último ano, vem colecionando déficits e denúncias feitas pelos próprios médicos do seu corpo clínico. Aliás, há entre boa parte dos profissionais que lá trabalham o desejo de que o Roberto Santos cumpra o papel a que foi destinado. Os colegas trazem ao CREMEB notícias sobre o caos lá instalado com a crônica falta de recursos e de especialistas, a exemplo de anestesiologistas. porque isso tem impactado todas as áreas cirúrgicas e intervencionistas do hospital, como o serviço de endoscopia digestiva e neurocirurgia. Tal situação, além de provocar mortes e sequelas em pacientes graves à espera de uma cirurgia, dificulta a possibilidade de novos atendimentos à população.

A SESAB precisa explicar, entre tantas outras coisas, por que não resolve o imbróglio com o serviço de anestesiologia do Roberto Santos. Quem impede a solução? É questão política? Disputa financeira? Favorecimento? Do que se trata? A população baiana não pode ficar recebendo um atendimento precário e descontinuado como o que está acontecendo. Apelo aqui ao Ministério Público do Estado da Bahia a nos ajudar a solucionar esta situação, que se arrasta a tanto tempo.

Não posso deixar de fazer referência à destruição do ensino no Roberto Santos. Como centro formador de especialistas, com inúmeros programas de Residência e como área de internato de diversas escolas de medicina, está em franco processo de desintegração. Agora, pasmem, ao invés de resolver a grave situação, a gestão se propõe a embarcar na aventura de criar campo de preparação para indivíduos com duvidosa formação no exterior, como forma de driblar o REVALIDA, criando-se o “revalida amigo”. É inacreditável a insensatez e o pouco caso dessa gente com a assistência à população. Quem virá nos socorrer diante deste descalabro?

A condição do Hospital Roberto Santos é grave e não se resolve há anos, apesar de nossos alertas aos gestores e outros agentes públicos que nada, absolutamente nada, têm respondido às nossas cobranças de informações acerca de medidas que estejam sendo tomadas visando resolver os problemas. Não é só: nos últimos dias recebi uma comunicação dos médicos nefrologistas do HGRS dando conta de que estão sendo ameaçados por um atravessador de mão de obra da saúde, exigindo-lhes que peçam demissão para eventualmente e posteriormente serem contratados na modalidade de Pessoa Jurídica (PJ). Essa questão contratual dos médicos é outra chaga da saúde pública que não encontra nenhuma ressonância entre os gestores.

Eis aí um paradoxo de ação governamental que nos anima a dizer que, para resolver os problemas crônicos do Roberto Santos, nenhuma atitude é tomada, mas, para agradar aos terceiros que lhes “vendem” serviços, o governo tem agilidade e busca os meios necessários.

Esta  nota de desabafo é resultado da sensação de inutilidade que sentimos com as nossas ações junto aos agentes públicos e gestores, que, por incompetência, desídia ou cumplicidade, parecem não estar preocupados com essa angustiante situação.

Trazemos isso também ao conhecimento dos médicos para que, sabendo que não estamos inertes, se mantenham firmes nos seus postos e nos tragam as denúncias das condições de trabalho aviltantes tanto para si como para os pacientes. Vamos publicizar todas! Esperamos, por fim, provocar junto à sociedade o movimento necessário para cobrar dos que ocupam postos de poder, para que eles saiam do conforto dos seus gabinetes e modifiquem esse estado de coisas. A sociedade baiana merece uma resposta urgente!

Otávio Marambaia – Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia
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