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Atendimento pediátrico na pandemia é discutido em live do Cremeb

24 de agosto de 2020

Dando continuidade ao ciclo de debates virtuais, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) promoveu, na última sexta-feira, dia 21, uma videoconferência sobre a “Assistência médica pediátrica no período de pandemia”. Sob a mediação da 2ª secretária da autarquia, conselheira Maria Jesus Bendicho, que é a coordenadora da Câmara Técnica de Cirurgia Pediátrica do Cremeb, o evento foi transmitido ao vivo e está disponível na íntegra no YouTube da instituição (youtube.com/cremeboficial). A iniciativa reuniu mais de 100 participantes.

A pediatra Patrícia Guedes, com área de atuação em cardiologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) e no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), abriu a discussão falando do impacto no atendimento ambulatorial no setor pediátrico nesses últimos meses. “Inicialmente, ou os serviços ambulatoriais foram suspensos ou reduzidos de maneira drástica. Hoje, mesmo aqueles que voltaram a atender, a gente tem visto um número muito pequeno de pacientes”, declarou ela.

A médica revelou que, no HUPES, o atendimento para pacientes novos já foi liberado este mês, mas, no HGRS, ainda não. “O local de atendimento (prédio anexo) foi transformado pela Sesab em uma enfermaria para dar suporte a outros hospitais da rede ao internamento de pacientes não COVID-19”, informou ela, complementando: “Apesar da oferta de consultas via telemedicina, como o fechamento foi muito brusco, sem um planejamento prévio, acredito que as pessoas não tomaram conhecimento. Em cardiologia, por exemplo, a demanda é muito baixa”.

De acordo com Dra. Patrícia, o Hospital Ana Nery, onde o atendimento ambulatorial pediátrico havia sido reduzido em 50% no início da pandemia, já voltou ao normal assim como no Hospital Martagão Gesteira. “No município, pelo que sei, o ambulatório também está sendo mantido. Em resumo, o impacto foi grande, tivemos uma redução bastante significativa, mas uma parte do serviço presencial já foi retomado, exceto no Roberto Santos, onde somente no ano passado tivemos mais de 2 mil atendimentos de pediatria. Ou seja, uma perda grande”, concluiu ela.

“O atendimento da pediatria a nível hospitalar tem sido uma montanha russa. Diferente do setor ambulatorial, os internamentos e as UTIs não pararam. Eles foram apenas modificados e a gente precisou se adaptar muito”. A afirmação foi do coordenador da pediatria do Hospital do Subúrbio e do Hospital Couto Maia, Dr. André Soledade, que apresentou um panorama mês a mês do serviço hospitalar pediátrico durante a pandemia. Ele relatou, por exemplo, que, inicialmente, existia muita dúvida sobre a qualidade e disponibilidade dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Segundo o médico, em abril, houve uma redução dos postos de trabalho de alguns pediatras, conforme prevê a Portaria nº 639/2020 do Ministério da Saúde. “Período difícil também por conta da adaptação de protocolos de atendimento COVID-19, muitos deles não feitos em crianças, como intubação precoce”, lembrou ele, ressaltando que aos poucos os processos estão se normalizando: “Hoje, o que nós percebemos são bons resultados. A gente segue se adaptando, reaprendendo. Para driblar a falta e o alto custo de algumas medicações, estamos sedando mais com morfina contínua”.

Dr. André também chamou atenção para a redução na quantidade de atendimentos nas emergências pediátricas durante a pandemia, trazendo como exemplo os dados do Hospital do Subúrbio, cuja média de atendimento passou de 920 em janeiro para 158 em julho. “Onde estão atendendo essas crianças? Sabemos que, com o isolamento social, muitas delas se expuseram menos e estão menos doentes, mas a gente sempre teve acidente doméstico, apendicite, etc. A gente notou que tem paciente chegando já com apendicite em grau 4, seja por medo de procurar atendimento nesse período ou por não encontrar atendimento”, disse ele.

Também convidada para o debate online, a coordenadora da residência médica de cirurgia pediátrica das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e cirurgiã pediátrica no HGRS e Hospital Geral do Estado (HGE), Míria Nunes, ratificou que, nesses últimos meses, houve uma redução nos leitos pediátricos, além de suspenção dos atendimentos ambulatoriais e de contratos de trabalho por conta da baixa demanda. “Tudo isso gera uma dificuldade de acesso à unidade de saúde, retardando o atendimento e o diagnóstico. Com isso, a gente tem atendido crianças em quadros mais avançados da doença, o que gera maior tempo de internação e um pior prognóstico”, resumiu ela.

Dra. Míria também pontou o prejuízo na formação dos futuros cirurgiões pediátricos, pois, neste momento, eles estão praticamente impedidos da atividade prática. “A formação destes profissionais é na prática, não adianta ler em livro. Por enquanto, a Comissão de Residência Médica não tem nada definido se vai haver prorrogação”, afirmou. Segundo ela, o retorno das atividades cirúrgicas na pediatria já está acontecendo, mas ainda há restrições: “Nós não estamos livres para operar qualquer tipo de patologia. O que se recomenda é que se opere apenas aqueles com riscos de perda de função ou órgão ou que já venha de urgência”.

Também marcaram presença na videoconferência a coordenadora da Câmara Técnica de Pediatria do Cremeb, conselheira Lícia Maria Moreira, a presidente da Sociedade Bahiana de Pediatria (Sobape), Dra. Dolores Fernandez, a presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Dra. Maria do Socorro Mendonça, e Dra. Margareth Hamdan, que é pediatria e também membro da Câmara Técnica de Pediatria do Cremeb, entre outros representantes de instituições pediátricas.

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